sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Ativistas vão às ruas em três cidades do Pará contra Belo Monte


Em uma ação articulada pelos Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVS), de Altamira, Comitê Metropolitano do Movimento Xingu Vivo para Sempre, de Belém, e pela Frente de Defesa da Amazônia (FDA) de Santarém, ontem (04) cerca de 700 pessoas, nas três cidades, ocuparam as ruas e avenidas para manifestarem a sua indignação pela forma arbitrária de como foi feito o processo de licenciamento ambiental provisório para o leilão da Usina Hidrelétrica (UHE) de Belo Monte.


Em Belém, a presença de vários movimentos sociais, ambientais e indígenas foi marcante, dando destaque para um grupo de guerreiros Tembé, de Santa Maria do Pará, que vieram de longe demonstrar a sua solidariedade aos seus parentes do Xingu. Alan Tembé disse que “nossos parentes do Xingu não estão sozinhos. Esta luta também é nossa”. Segundo a organização do evento em Belém, cerca de 300 pessoas de todos os cantos da região metropolitana da cidade demonstraram para a sociedade, ao governo federal e às empreiteiras que não vão aceitar calados esta violação a nossa Constituição que foi o todo o processo de Belo Monte, desde as “audiências públicas” até a liberação da Licença Ambiental Provisória.


A concentração do Ato-Vigília aconteceu no Complexo Arquitetônico Nazaré (CAN), e seguiu em caminhada até a sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na avenida Conselheiro Furtado onde além das falas aconteceram místicas representando a situação das nossas águas e rituais indígenas de proteção e de enfrentamento .


Em Altamira, o Ato-Vigília em frente ao escritório do Ibama contou com a participação de 350 pessoas. Antonia Melo, do MXVS, por telefone, disse que apesar da falta de recursos financeiros para organizar as ações, os movimentos de resistência a UHE continuam firmes na luta e que prometem resistir até o fim.


Em Altamira teme-se por um confronto maior, pois há 20 anos os movimentos sociais e indígenas vêm resistindo. Enfrentaram ditadores militares e governos civis e prometem endurecer na luta. Em uma carta dos índios Kayapós, enviadas ao presidente Lula, no final do ano passado, eles alertam: “... exigimos que o governo cancele definitivamente a implementação desta hidrelétrica. Caso o governo decida iniciar as obras de Belo Monte, alertamos que haverá uma ação guerreira por parte dos Povos Indígenas do Xingu. A vida dos operários e indígenas estará em risco e o governo brasileiro será responsabilizado”.


Em Santarém, na região do Tapajós, um grupo menor, mas combativo, coordenados pela FDA, reuniu-se em frente ao escritório da Ibama. Essa pequena concentração de pessoas estava com um carro som e algumas delas falaram ao microfone aos presentes e aos passantes da orla da cidade. Alguns dos caminhantes paravam para entender o que era a concentração, outros passavam de carro e tentavam entender o motivo de as pessoas estarem ali, com uma tela de projeção de filme e alegres escutando as falas de que tinha à mão o microfone.


Quando o sol de pôs no horizonte e começou a projeção de um filme documentário mais pessoas chegaram para ver o conteúdo, que era sobre os índios do rio Xingu, manifestando indignados sua rejeição ao projeto da Eletronorte de construir uma mega hidrelétrica em Belo Monte do Xingu. Para eles, o projeto do governo federal vai destruir seu mais precioso patrimônio, o rio e a floresta de onde eles tiram sua alimentação e respeito à mãe natureza.


Aquelas pessoas queriam, ao mesmo tempo, dar um grito de alerta à sociedade santarena e do Baixo Amazonas sobre o perverso plano do governo federal de construir mais cinco hidrelétricas na bacia do rio Tapajós. O que ocorre hoje na região do Xingu é o que em breve chegará pelo Baixo Amazonas.


O que preocupa os manifestantes da vigília de ontem é que, enquanto na região do Xingu as organizações populares e a sociedade estão organizadas e reagem firme contra os planos da Eletronorte, no Baixo Amazonas bem poucas pessoas já tomaram consciência das ameaças e se posicionam em defesa do rio Tapajós e seus povos.


Texto: Marquinho Mota, assessor de Comunicação Rede Fórum da Amazônia Oriental (Faor), com informações de Edilberto Sena, da RádioRural de Santarém, e Antônia Melo, do MXVS, em Altamira.

Fotos: Cleide Magalhães, jornalista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário